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Rebranding da Via Varejo para Grupo Casas Bahia: Estratégia em Meio à Crise

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Após pouco mais de dois anos de ter alterado sua denominação de Via Varejo para simplesmente Via, uma das maiores empresas do varejo brasileiro agora decide voltar às suas origens, adotando o nome Grupo Casas Bahia. Essa decisão também implica em mudanças no código de negociação de suas ações na Bolsa de Valores, a B3, que passa a ser BHIA3 a partir desta quarta-feira (20).

O grupo, que é também proprietário da rede Ponto (anteriormente conhecida como Ponto Frio), optou por resgatar o slogan tradicional da Casas Bahia: “dedicação total a você”.

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Esta transformação, segundo análises de especialistas, representa uma tentativa de reposicionar a marca e recuperar o lugar de destaque que já ocupou na mente do público, tudo isso enquanto a empresa se esforça para enfrentar uma crise financeira significativa que se estende ao longo dos últimos anos.

Essa mudança de nome ocorre em meio a uma séria crise financeira que a antiga Via Varejo enfrenta, com prejuízos continuados. No segundo trimestre de 2023, por exemplo, a empresa registrou um prejuízo líquido de R$ 492 milhões, marcando o quarto trimestre consecutivo de prejuízos crescentes.

Phil Soares, responsável pela análise de ações na Órama, destaca que o setor varejista como um todo está enfrentando dificuldades devido às altas taxas de juros no país, que tornam os processos de financiamento e obtenção de crédito mais onerosos, reduzindo consideravelmente o poder de compra da população e aumentando os níveis de inadimplência.

Além disso, Iago Souza, analista de varejo da Genial Investimentos, observa que o grupo enfrenta “um momento delicado no ambiente competitivo, com desconfiança após a recuperação judicial da Americanas e com empresas estrangeiras inundando o mercado brasileiro com produtos asiáticos de baixo custo”.

No entanto, o principal desafio da antiga Via Varejo atualmente é o seu elevado endividamento, de acordo com José Eduardo Daronco, analista da Suno Research. “A empresa está enfrentando um resultado operacional muito abaixo das expectativas, e a dívida continua a crescer.”

A empresa já iniciou um plano de reestruturação de seus negócios. Em agosto, anunciou o fechamento de até 100 lojas físicas e a demissão de cerca de 6 mil funcionários, além de planejar reduzir até R$ 1 bilhão em estoques, mantendo os produtos menos lucrativos apenas nos canais de venda online.

A mudança de nome é, portanto, uma parte dessa reestruturação, destinada a remover a conotação negativa que a marca Via adquiriu devido à situação financeira difícil.

“Eles desejam revitalizar a empresa e também apresentar uma imagem renovada aos investidores, indicando que estão retornando às raízes, à época em que prosperavam”, afirma o analista de investimentos Vitor Miziara.

E esse “retorno” visa especialmente os pequenos investidores individuais, que constituem uma parte significativa da base de acionistas da empresa, ressalta Phil Soares.

“O principal objetivo é aproximar a parte corporativa da empresa dos investidores de varejo. O nome ‘Casas Bahia’ é amplamente conhecido, está há décadas no mercado brasileiro e conta com milhões de clientes. Portanto, a meta é aproximar os investidores, especialmente os de varejo, melhorar o reconhecimento da marca, atraindo o mercado de forma geral”, comenta o analista da Órama.

Embora a retomada do nome Casas Bahia possa despertar sentimentos nostálgicos nos consumidores, isso não é suficiente para aumentar o otimismo do mercado em relação ao futuro da empresa, segundo Vitor Miziara. “Para os investidores, a mudança de nome não tem tanto valor, pois estão mais preocupados com números do que com palavras”, afirma ele.

Iago Souza, da Genial, concorda e destaca que os investidores esperam melhores resultados operacionais. Essa postura ficou clara após a malsucedida oferta de ações da empresa, que arrecadou pouco mais da metade do montante desejado.

O analista ressalta que o mercado ainda não aderiu à estratégia do plano de reestruturação e está aguardando os resultados dos próximos trimestres. Ele sugere até a possibilidade de a Casas Bahia ter que recorrer à recuperação judicial. “Existe espaço para recuperação, sim. O plano apresentado tem boas propostas, mas ainda estamos cautelosamente negativos”, destaca.

Miziara compartilha uma visão semelhante e conclui: “Acredito que o aumento de capital não será suficiente para evitar um pedido de recuperação, uma vez que o valor injetado na empresa só sustentaria a situação atual por, no máximo, três trimestres se os resultados continuarem como estão. Dado que tanto o preço das ações na última oferta quanto a demanda dos investidores foram fracos, não vejo espaço para um novo aumento de capital”.

Apesar de ter arrecadado cerca de R$ 620 milhões em uma projeção de R$ 1 bilhão, Eduardo Daronco, da Suno, observa que os recursos proporcionam algum alívio para a empresa continuar sua reestruturação.

Já Soares, da Órama, mantém uma perspectiva mais otimista e acredita que a mudança de nome pode ter algum impacto positivo, embora esteja claro que não seja suficiente para impulsionar as receitas do grupo, que precisa continuar com seu processo de reestruturação e melhorar a lucratividade. Se isso ocorrer, ele acredita que a empresa “tem potencial para se recuperar da crise financeira”.

Fonte: G1 Globo

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